Para a arquiteta e designer Patricia Anastassiadis, diretora criativa da Artefacto, estamos passando por um momento de resgate: “As nossas memórias afetivas ficaram mais latentes. Há certas coisas que precisam ser vivenciadas – não podem ser descritas ou transmitidas de outras maneiras”, contextualiza. “É assim com a liberdade, a ingenuidade, a simplicidade”. Na recente pandemia, a abordagem arquitetural fragmentou-se, posto que a moradia passou a atender a uma amplitude maior de funções/finalidades/ necessidades. “A casa contempla as transformações que acontecem na sociedade. Antes, tínhamos uma lente muito aberta para o mundo e as distâncias eram mais curtas. Quero trazer a natureza para a nova linha, além de outros elementos que não sabíamos valorizar porque tínhamos tudo, aparentemente, à disposição”. Fluidos, transitórios e adaptáveis, os novos móveis desenvolvidos para a coleção Edition dialogam com a vida lá fora: são, em sua maioria, totalmente flexíveis para uso indoor/outdoor, remixando o gesto orgânico/artesanal (que há 45 anos é marca registrada da Artefacto) com as novas tecnologias que oferecem elevada resistência às intempéries, sem tirar da equação a ergonomia, o design atemporal e a qualidade/durabilidade dos produtos. “É como se fosse um outdoor para a alma, pois a casa se converteu numa válvula de escape mental”, resume. Organizada em três moods distintos (Jornada, In Natura, Naive), a Edition 2021 evoca momentos de alegria não muito distantes da gente: a efervescência dos anos 1960 na costa italiana e em enseadas como Rio e Guarujá. Mas, como traduzir esses conceitos para o mobiliário? “Quer coisa mais lúdica do que uma cadeira de balanço?”, responde Anastassiadis, citando uma das novidades do ano. “Estamos trazendo esses componentes relativos à memória afetiva. Não estou indo ao encontro de formas surreais, pelo contrário. Estamos buscando shapes inaugurais, que remetem aos primórdios da vida. Pureza e descomplicação. Os móveis estão mais despojados, descontraídos – mais naturais”. A proposta sintetiza um modo de consumir mais consciente, sustentável e inteligente neste mundo transitório-permanente. “Não podemos sair iguais de tudo isso que estamos vivenciando enquanto civilização”, diz. Na prática, são móveis que sugerem a evolução de peças pré-existentes – a exemplo do sofá que vem atualizado numa encarnação indoor/outdoor, ou as poltronas e cadeiras que remetem aos arquétipos tradicionais indígenas, tão comuns nas praias brasileiras. “Há detalhes como o apoio de nuca com contra-peso e os assentos com gomos, que proporcionam mais ergonomia/conforto, ou os suportes para smartphones, carregadores USB, pernas dobráveis, estruturas em alumínio (mais leves e menos suscetíveis à corrosão), tecidos náuticos, madeira teca”, revela. “Não quero que esses móveis sejam especificados para uso indoor ou outdoor – quero que eles estejam em qualquer lugar: dentro de casa, numa varanda semi-coberta, a céu aberto”, propõe. “As fronteiras se dissipam, se misturam, não há limites entre dentro e fora. O mobiliário transmite a liberdade outdoor ao desconstruir o modo como as pessoas interagem – são elementos meditativos, contemplativos, escapistas, feitos para serem usufruídos. Os produtos nesta coleção ficaram mais versáteis e mais inteligentes, sendo capazes de atender às mais variadas demandas. A casa virou bar, restaurante, cinema, praça pública. Essa nova linha permite explorar todo o potencial de cada espaço, dentro e/ou fora”, finaliza.